A cultura passageira e a eterna busca pelo hype momentaneo

Posted: 26 de maio de 2010 by Finho in Marcadores: , , , , ,
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Post adaptado do Blog Seth Godin

A internet disseminou duas novas formas de criação e consumo de cultura. A primeira é a porta escancarada para que amadores possam criar livremente e os maiores exemplos dessa manifestação são os blogs, as wikipedia e as redes sociais. Pessoas que se atualizam via blogs, wikipedia ou afins consguem praticamente qualquer informação sobre qualquer nicho com agilidade e profundidade. Essa maneira de criar recebe merecidamente muita atenção da mídia porque ela altera de forma radical, o padrão de consumo de mídia estabelecido durante séculos.

O segundo exemplo é marcado pela dispersão e pelo disperdício da informação. Estamos criando uma cultura de clicadores, referenciadores, curadores, linkers e espectadores blasés que decidem em segundos se irão assistir e participar de algo ou não.

Imagine se as pessoas fossem ao teatro ou ao cinema e saíssem das sessões ou das peças após os seis primeiros segundos? Imagine se os leitores largassem os livros após a conclusão do prefácio?

A maioria das pessoas que assinam um feed ou serviço online acabam quase nunca utilizando-o. A vasta maioria de filmes do Youtube são vistos por poucos segundos. O Chatroulette instutucionalizou a mentalidade do ver e clicar e acredito que mais da metade de pessoas que começaram a ler esse post não irão ler até o final.

Todos esses dados são fáceis de medir e levam os criadores de conteúdo a se questionarem frequentemente: Devo escrever sobre algo que irá aumentar o minha audiência ou sobre algo que irá mudar a forma como alguns poucos pensam?

Cada vez mais, observamos produtos e serviços sendo desenhados para captar a atenção imediata dos clickers. A Globo.Com e o Terra frequentemente transformam histórias complexas em matérias superficiais, sensacionalistas e que servem de "linkbait". Essa estratégia conquista pageviews, mas será que gera reflexão ou mudança?

Quem cria conteúdo deve correr atrás de pessoas que clicam e rapidamente vão embora? Manipular a atenção de milhares de internautas heavy-switchers é uma estratégia viável a longo prazo?

A revista Time começou a transformar sua capa e o seu conteúdo para aumentar o volume de vendas nas bancas. Talvez, essa seja uma solução eficiente a curto prazo, mas a revista está condenada porque o novo público alvo que a revista está tentando atingir não presta muita atenção nas materias e portanto, a publicação se torna menos atrativa para os anunciantes.

Meu receio é que a eterna busca pelo hype do momento permeie a nossa cultura e ao mesmo tempo, convença os profissionais de marketing a se tornarem mais simplistas. Seguindo essa tendência, os artistas, profissionais de marketing e criadores de conteúdo em geral estão esquecendo-se da sua essência, das suas ideias originais e polêmicas, focando-se exclusivamente na tentativa de conquistar legiões de fãs. Fãs que futuramente irão espalhar o conceito e gerar retorno.

Os conteúdos estão se disseminando cada vez mais rapidamente e de forma mais superficial durante anos e eu não sou o primeiro a questionar a ausência de reflexões e experiências profundas. Apesar disso, a questão não é a velocidade ou a superficialidade em si, mas a escolha de uma audiência transitória e infiél em detrimento de um público seleto e relevante que pode mudar mentalidades, criar paradigmas e espalhar ideias importantes. Por qual direção, o criador de conteúdo deve direcionar seu investimento?

A cultura passageira é veloz e gratuita. Quando não há comprometimento com o dinheiro ou o tempo na interação, a mudança de pensamento pode realmente acontecer?

Uma empresa de caridade deve focar em doações instantaneas a partir do envio de SMS para milhares de pessoas ou é mais produtivo dedicar atenção ao suporte oriundo de poucos que compreendem a missão e abraçam a causa?

Na escolha entre "quem" e "quantos", o "quem" deve nortear as suas decisões se o seu objetivo é cativar as pessoas com a produção de informação. Encontre as pessoas certas - as que estão dispostas a ouvir o que você quer falar e ignore as massas que apenas irão folhear o seu conteúdo e permanecer imutáveis.

2 comentários:

  1. Avz says:

    Mídias fáceis de consumir sempre existiram e sempre venderam mais do que as difíceis: revistas de fofoca vendem mais do que livros de filosofia, filmes de sessão da tarde mais do que aqueles que tem algo a dizer e notícias populares mais do que editoriais sérios.
    A diferença é que agora a disponibilidade dessas coisas é infinita e muito fácil (na verdade é difícil não se deparar com um link para uma notícia fútil, um vídeo bobo ou um joguinho), então as vezes começamos a consumir este tipo de mídia e não conseguimos parar, esgotando o tempo que temos livre e deixando de consumir conteúdo sério.

  1. Finho says:

    Pra variar, excelente análise. Gosto bastante da forma como você sempre compara meios offline e online. Além da disponibilidade de conteúdo x falta de tempo que você apontou, minha grande preocupação é com a produção de conteúdo (ao invés do consumo em si). Nos meios offline, os produtores de conteúdo sempre ficam presos a linhas editoriais, sejam elas rígidas ou mais flexíveis.

    Na internet, os produtores de conteúdo tem total liberdade para escreverem sobre o que bem entendem, mas cada vez mais, vemos que essa liberdade é trocada pela busca incessante por audiência. E com a propagação de conteúdos sensacionalistas e superficiais em grande escala é de se esperar que a audiência fique "se acostume" com isso, como ocorre nos meios offline

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